quinta-feira, 5 de fevereiro de 2009

O Filhotão

Dona Tico-Tico estava contente. Depois de dias e dias juntando gravetos, penas e pedacinhos de palha, o ninho estava pronto. Era um ninho feito com todo o capricho e muito confortável.

Seu Tico-Tico deu uma volta ao redor da obra e disse:
- Acho que está bom! Não precisamos trazer mais nada. Agora, minha querida, é com você. Pode ir botando os ovinhos. Não vou ficar longe. Se precisar de alguma coisa é só dar um pio! Depois de dizer isso, saiu voando...
A dona Tico-Tico resolveu inaugurar o novo ninho. Sentou e foi se acomodando até encontrar uma posição confortável.
Achou que estava muito bom mesmo.
Não demorou muito e logo botou um ovinho. Antes de começar a chocar, resolveu que ainda queria tomar um banho de areia, comer alguma coisa e beber um pouco de água. Assim, deixou o ovo no ninho e saiu voando. Em pouco tempo fez tudo que queria. Depois, dando trinados de alegria, voltou.
Logo ao chegar, levou um susto daqueles. Pensou que estava enxergando coisas demais!
- Chiiiiii - ela piou - acho que estou precisando de óculos!

- Tem dois ovinhos no meu ninho! Como foi que aconteceu uma coisa dessas?
- Será que eu estou ficando distraída? Vai ver que eu botei um ovo a mais e nem me dei conta! Que coisa mais esquisita!
- Em todo o caso, não posso perder tempo! Está na hora de começar a chocar meus filhinhos!

Assim foi pensado e assim foi feito. Com todo o cuidado, sentou-se sobre os ovos até cobri-los completamente com as penas.
Enquanto isso matutava:
- Vejam só! Como é que aconteceu eu botar um ovo tão grande? Bem maior que o outro?

Agora tinha que dar um jeito e chocar os dois.
Afofou as penas para manter o calor igual para os dois e resolveu tirar uma soneca.

Os dias foram passando e ela sempre chocando. Podia estar chovendo ou fazendo um sol de rachar que a dona Tico-Tico não arredava pé. Teve uma noite de temporal com fortes rajadas de ventos e muita chuva.
Ela quase que desanimou, mas pensou nos filhinhos. Por isso esticou as asas, mais ainda e cobriu o ninho. Escondeu a cabeça e assim, todos continuaram secos e abrigados.

Depois da noite chuvosa, o dia amanheceu com um belo sol. Não conseguira dormir nem um nadinha, mas agora, podia relaxar e aproveitar o calor gostoso do sol.

Já estava quase pegando no sono quando sentiu uma coisa muito esquisita. Algo estava acontecendo dentro do ninho e bem debaixo das suas penas!

Primeiro foi um créc, cric, cróc fraquinho, logo seguido de um tóc, tóc, tóc.

Era um filhote avisando que estava pronto para nascer!
Espiou debaixo da asa. A casca do ovinho menor deu um estalo, craaac, se partiu e o filhotinho apareceu! Murcho, amassado e sem penas. Logo que viu a mãe, abriu o bico para mostrar que estava com fome.

Dona Tico-Tico, deu um beijinho no bebê Tico-Tico e foi examinar o outro ovo, o grandão. Com aquele ainda não havia novidade.
Com um suspiro, concluiu:
- Este aí ainda precisa de mais um dia chocando - disse, e foi procurar comida para o pequenino que já estava com fome.
A casca do ovo grandão só se partiu na tarde do dia seguinte. Depois de muito créc, créc créc, rola para lá e tóc, tóc, tóc, rola para cá é que surgiu o filhote.

Era um filhote muito grande, o dobro do tamanho do irmão! Murcho, amassado e sem penas mas tinha um vozeirão! Logo abriu o bico e começou a reclamar! Não parava e ficava exigindo comida aos berros.
Começou a correria! Dona Tico-Tico não tinha mais sossego. Só o que fazia era buscar comida para os filhinhos.


Ia e vinha, para lá e para cá e o filhotão sempre reclamando. Parecia que nunca enchia a barriga. Quando chegava a noite, o pequenino já dormindo e o grandão continuava com fome!
Seu Tico-Tico ajudava a mulher, na busca de alimentos, mas estava ficando cansado. Achou que o grandão exagerava! Onde já se viu um filhinho Tico-Tico reclamar e comer tanto?
Comia por dois, dormia de roncar e estava ficando grande demais. Onde já se viu uma coisa dessas?
Papai Tico-Tico já estava perdendo a paciência! Gostava de ajudar a mulher mas, cá entre nós, que fome tinha este filhote! Mesmo assim, como era um bom pai, continuou a trazer comida para o filho, que nem cabia mais dentro do ninho!
Os filhotes aprenderam a voar e precisaram procurar comida por conta própria.
O grandão não quis saber disso. Preferia ganhar tudo no bico! Se a mãe estivesse por perto, começava a piar e reclamar. Ficava sacudindo as asas, arrepiava as penas e choramingando, pedia comida.

Um dia, dona Joana do Barro, foi visitar a família Tico-Tico. Viu como o casal estava esgotado tentando encher a barriga do filhotão.

Quando viu o tamanho da “criança”, deu uma boa risada e disse:
- Comadre, a senhora foi lograda!
- Lograda, eu? - perguntou dona Tico-Tico, enquanto botava mais comida dentro do bico do guloso.
- Lograda por quem?
- Por esse filhote! Ele está se aproveitando de seu bom coração. Não é nem seu filhinho. Ele é um Chupim !
- Deus, meu! Um chupim? Explica isso, dona Joana. Não estou entendendo.
Dona Joana disse
- A senhora lembra quando vocês dois estavam construindo o ninho? Um dia eu encontrei a dona Chupim por essas bandas... Ela ficou um bom tempo rondando a sua árvore, como quem não quer nada...

E Dona Joana continuou:
- Agora eu entendo porque ela rondava tanto por esses lados. Ela estava de olho! Queria botar um ovo no seu ninho para a senhora chocar!
- As donas Chupim são bem assim! Vivem fazendo isso.

Não resistem quando vêem um ninho, pronto para ser ocupado! É, elas são preguiçosas e não gostam de chocar!
- Ora vejam só, suspirou dona Tico-tico. Eu deveria ter desconfiado há mais tempo.
- Mesmo assim, não quero mal a esse filhotão. Não é culpa dele ter uma mãe tão irresponsável! Para mim, o grandão é meu filhote de verdade. Fui eu quem o chocou e fomos nos que o criamos. Gosto tanto dele como do outro, o pequenininho. Meu marido pensa da mesma maneira.

- Mas tem uma coisa que posso fazer agora: É mandá-lo procurar comida por conta própria. Estou exausta e preciso de férias.
Chamou o filhotão que saltitava alegremente de um galho para outro, disse:
- Vai filhote. Você está bem crescido e já sabe se virar sozinho. Quero me dedicar ao meu pequenino. Ele ainda precisa de mim.
- O filhotão Chupim entendeu o que a mamãe Tico-Tico estava dizendo. Na verdade, já se sentia pronto para conhecer novas paragens. Estava ansioso para partir.

Antes, mamãe Tico-Tico aconselhou:

- Vá conhecer o mundo, mas tome cuidado! Se algum dia, acontecer de passar aqui por perto, não esqueça de nos visitar, ouviu?
- É claro, mamãe. Eu virei visitá-la, sempre que puder.
– Mas por favor, meu filho, nem pense em trazer uma namorada - disse a mãe.
- Porque? – perguntou o filhotão. – Porque não posso ter namorada?
– Não! Não é nada disso, meu querido. Pode ter namorada sim. Mas não quero nem saber de ela chegar e botar um ovo no meu ninho, entendeu ?
- Um filho Chupim eu agüento, mas outro, nem falar...
O filhotão ficou rindo e prometeu:
- Isso eu não vou deixar acontecer. De jeito nenhum! Eu prometo, mamãe!
E sacudindo as asas, despediu-se, partindo em direção ao matagal.


Fim

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